quarta-feira, 4 de maio de 2011

a teia de afetos de alexandre sequeira e yi-fu tuan


Falar de Alexandre Sequeira emociona sempre... E é fácil e ao mesmo tempo dificílimo explicar o que se sente ao ver o trabalho dele... Pude conhecê-lo mais um pouco e saber da construção de seu universo fotográfico na IV Semana de Fotografia do Recife. Uma semana citada aqui no blog como cheia de afeto e gente de qualidade profissional e pessoal.

Sequeira, para quem não o conhece, é nascido em Belém. E como mesmo se apresenta em seu blog, é formado em arquitetura pela Universidade Federal do Pará-UFPA em 1984. Professor do Instituto de Ciências da Arte da mesma universidade, Especialista em Semiótica e Artes Visuais e Mestre em Arte e Tecnologia pela Universidade Federal de Minas Gerais-UFGM. Artista plástico e fotógrafo, desenvolve trabalhos que utilizam a fotografia como vetor de interação e troca de impressões com indivíduos ou grupos. Ele já expôs seu trabalho no Brasil, no Canadá, na Bélgica e na França.


Sua ligação com as pessoas e os lugares que ele fotografa é impressionante. Porque a máquina fotográfica é só um meio para a construção de relações de respeito, identidade, amizade... E é efetivamente este meio que deslancha, dá colo e respeito aos fotografados e atribui outros valores maiores à fotografia.

Descobri um vídeo com Sequeira apresentando Nazaré de Mocajuba, uma vilinha afastada de Belém do Pará, onde ele desenvolveu seu trabalho maravilhoso em que estampou os retratos das pessoas da vila em toalhas, lençóis... Mas essa foi só uma etapa do projeto realizado por ele neste lugar, lindo e com pessoas afetuosas e receptivas.


Outro exemplo de afeto e de talento é a fotógrafa, artista e professora Fernanda Magalhães. Ela também estava na Semana de Fotografia e foi ela quem postou este vídeo no Facebook. Falaremos mais dela aqui por estas vielas fotográficas... Aguardem!

Vendo o vídeo com Sequeira explicando sua trajetória em Nazaré não me canso de chorar... Não me canso de acreditar que enfim, se a fotografia não cria afetividade com as pessoas e lugares, para que ela serve exatamente? Sequeira me põe a pensar efetivamente nas questões proporcionadas pelo ato fotográfico - não discutidas só de boca para fora e para ficar na moda, só para inglês e fotógrafos verem - e me lembra o geógrafo chinês, naturalizado americano, Yi-Fu Tuan. Ele tem discutido desde o seu livro "Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente" e em outros livros e artigos da geografia humanística, a relação do homem com seu espaço, lugar e a construção da percepção e do que ele chama de "geográfico afetivo". Tenho lido bastante este senhor de mais de 80 anos que trouxe uma perspectiva realmente focada nas relações das pessoas com seu ambiente e bagunçou a teoria geográfica tradicionalmente conhecida. E na geografia duas correntes preponderavam, pelo que tenho acompanhado: a cultural e a física. Ele é respeitado inclusive pelos marxistas, imersos no conceito de espaço como produto, motivo de discussões majoritariamente políticas, sistêmicas e econômicas. Difícil conhecer pesquisador unânime assim!!!

Mais um motivo para encontrar respostas fundamentadas de que nossa identificação com lugares e pessoas através da fotografia, principalmente, não vem à toa ou pelo menos não deveria vir, como relatou muito bem Sequeira nessa apresentação divina de sua motivação fotográfica. Sequeira, como Yi-Fu Tuan, também é unânime entre nós e entre todos. E isso, pelo que tenho observado, é fácil: é só ser ele mesmo. E isso ele é demais!! 

2 comentários:

Glauco Vieira disse...

Olá Luciana, a geografia é um território rico, mas por vezes desconhecido dos cientistas humanistas. Yi-Fu Tuan é um grão brilhante na galáxia-geografia. Fico contente que o tenha descoberto, e certamente gostará de conhecer outros como a Doreen Massey, James Duncan e Denis Cosgrove *** Conheci seu blog hoje, e já está em meus favoritos. Ando meio sem tempo para bloguear, mas se puder dê passeada no http://glaucovieira.blogspot.com

Ju Biscalquin disse...

Olá Luciana
Seu blog está no meu Reader há um tempo, sempre li, nunca comentei, mas esse post me obrigou a fazê-lo. Impossível não me emocionar. Me deu uma vontade imensa de conhecer pessoalmente o Alexandre. Já conhecia o trabalho, mas a história não... Fez toda a diferença! Obrigada pela partilha!
Um beijo