Brinco falando quase como uma heresia que historiadores, fotógrafos, antropólogos, sociólogos e biólogos deveriam fazer parte de um mesmo clã... Pois a interdisciplinaridade destas áreas contribuiria demais para todas elas em conjunto e individualmente. Para muitos isso realmente é uma blasfêmia. Para outros, uma oportunidade de enriquecimento teórico, metodológico, cultural e humano.
O britânico Peter Burke é um destes ricos culturalmente pela interdisciplinaridade. É um historiador muito presente na vida dos brasileiros e atualmente um dos mais lidos e tem publicado vários livros que discutem a cultura e a história de maneira mais rizomática, (diria Gilles Deleuze) do que muitos outros historiadores; por isso, vem sendo tão celebrado nos últimos anos.
É casado com a brasileira, professora e também historiadora Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke, estudiosa dentre outros temas da obra do sociólogo pernambucano Gilberto Freyre (entre seus livros famosos está "Gilberto Freyre: um vitoriano dos trópicos").
Uma prova de interdisciplinaridade com especificidade e pesquisa apurada é o livro "Testemunha Ocular" (veja o blog Leitura Obriga História), onde Sr. Burke investiga com propriedade o uso da fotografia nas pesquisas e no trabalho do historiador e como marco na descrição e na vivência social. Vale salientar que nunca é redundante comentar a respeito da problemática que ainda existe em torno do uso da fotografia como fonte de pesquisa histórica - discute isso muito bem e exaustivamente o professor e fotógrafo Boris Kossoy em seu "Fotografia & História" e "Os Tempos da Fotografia: o efêmero e o perpétuo".
No "Testemunha Ocular" (2004), da coleção "História e Imagem", Burke apresenta a famosa premissa sobre a "ambiguidade das imagens no uso como evidência histórica" e argumenta que "os retratos registram não tanto a realidade social, mas ilusões sociais, não a vida comum, mas performances especiais". Boa questão para ser destrinchada mais e mais...
Outro livro que deveríamos ter na cabeceira da mente é o "História e Memória" (2003), do historiador da celebrada Escola dos Annales (atualmente não tanto assim), Jacques Le Goff. No capítulo "Documento/ Monumento", ele destaca entre outras tantas excelentes explicações que "o termo latino documentum, derivado de docere, 'ensinar', evoluiu para o significado de 'prova'" e cita o século XX como a época do triunfar documental e da enorme "revolução documental"; com o positivismo 'sinônimo' de empirismo e praxis, nada melhor que "provas da realidade" que apresentassem melhor as constatações sociais e históricas da época.
O britânico Peter Burke é um destes ricos culturalmente pela interdisciplinaridade. É um historiador muito presente na vida dos brasileiros e atualmente um dos mais lidos e tem publicado vários livros que discutem a cultura e a história de maneira mais rizomática, (diria Gilles Deleuze) do que muitos outros historiadores; por isso, vem sendo tão celebrado nos últimos anos.
É casado com a brasileira, professora e também historiadora Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke, estudiosa dentre outros temas da obra do sociólogo pernambucano Gilberto Freyre (entre seus livros famosos está "Gilberto Freyre: um vitoriano dos trópicos").
Uma prova de interdisciplinaridade com especificidade e pesquisa apurada é o livro "Testemunha Ocular" (veja o blog Leitura Obriga História), onde Sr. Burke investiga com propriedade o uso da fotografia nas pesquisas e no trabalho do historiador e como marco na descrição e na vivência social. Vale salientar que nunca é redundante comentar a respeito da problemática que ainda existe em torno do uso da fotografia como fonte de pesquisa histórica - discute isso muito bem e exaustivamente o professor e fotógrafo Boris Kossoy em seu "Fotografia & História" e "Os Tempos da Fotografia: o efêmero e o perpétuo".
No "Testemunha Ocular" (2004), da coleção "História e Imagem", Burke apresenta a famosa premissa sobre a "ambiguidade das imagens no uso como evidência histórica" e argumenta que "os retratos registram não tanto a realidade social, mas ilusões sociais, não a vida comum, mas performances especiais". Boa questão para ser destrinchada mais e mais...
Outro livro que deveríamos ter na cabeceira da mente é o "História e Memória" (2003), do historiador da celebrada Escola dos Annales (atualmente não tanto assim), Jacques Le Goff. No capítulo "Documento/ Monumento", ele destaca entre outras tantas excelentes explicações que "o termo latino documentum, derivado de docere, 'ensinar', evoluiu para o significado de 'prova'" e cita o século XX como a época do triunfar documental e da enorme "revolução documental"; com o positivismo 'sinônimo' de empirismo e praxis, nada melhor que "provas da realidade" que apresentassem melhor as constatações sociais e históricas da época.
Outro perspicaz debatedor do assunto "fotografia como instrumento e documento" é o antropólogo, professor e fotógrafo Milton Guran, com sua aguçada visão e sensibilidade argumenta muito bem nesta discussão. Sua disciplina que abordava a "fotografia como informação" à época na Universidade de Brasília em meados do final da década de 1990, fazia nossas cabeças e olhos entrarem em parafuso com tantos questionamentos. Vale muito assistir a uma palestra e ler sobre Guran. E vale ler entrevista feita com ele pela professora e pesquisadora pernambucana em fotografia, Geórgia Quintas para o blog Olha, Vê do fotógrafo Alexandre Belém. E vide excelente artigo da professora e historiadora Ana Maria Mauad sobre Guran.
Mas mesmo com esta "revolução do documento" e com muitos pesquisadores se utilizando da fotografia, ainda há uma resistência dos mais tradicionais ou dos mais céticos ao uso de fontes orais e imagéticas na elaboração de uma pesquisa.
Porém, muito bom lembrar que partir da década de 1920 em Pernambuco, o sociólogo, antropólogo e escritor, Gilberto Freyre, foi um dos poucos pioneiros cientistas sociais até o momento citado a se utilizar realmente de imagens como instrumento de pesquisa. E tinha isto nítido na mente! Visionário como era, polemizador, antagônico, mas buscando essa "tal identidade nacional", utilizou-se muito de suas fotografias de viagem como base para seu pensamento social. Vale ler o artigo "Por uma sociofotografia" publicado no livro "O retrato brasileiro: fotografias da coleção Francisco Rodrigues 1840-1920", com textos de Gilberto Freyre, Fernando Ponce de Leon, Pedro Vasquez, publicado pela Funarte em conjunto com a Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ) em 1983. Mais interdisciplinar impossível, pois até sobre brinquedos de menino, moda e modos e culinária e também fotografia este Sr. de Apipucos discursou!
Viva a interdisciplinaridade!
2 comentários:
Luciana, muito bom. Vale lembrar que com a fotografia já se vai mais além do que técnica de pesquisa. Ela veio enriquecer as pesquisas com seu potencial narrativo, no sentido de discorrer e difundir nossos convencimentos antropológicos.
ab
Achutti.
Olá Achutti,
Com certeza!! Concordo plenamente!! E é um prazer e uma honra ter seu comentário por aqui! Participe sempre que quiser e puder!!
Obrigada demais! Um abraço!!
Lu.
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