Falando em sonho... Acredito que todo fotógrafo "sonha literalmente" em fazer um trabalho menos fútil, bem pago, inteligente, com sentido, objetivo de vida, que tenha seu crédito respeitado da mesma maneira que o de um jornalista (inclusive em tamanho de fonte), com temas interessantes, que não tenha cortes absurdamente ridículos e destruidores... Sonha em fazer menos (ou NUNCAAAAAAAAA MAIS FAZER) "fotos com fundo branco, para recorte"...
É necessário, às vezes, passar por estas digamos "raivas e decepções" para vermos o que REALMENTE não queremos para nossa vida profissional. Difícil em alguns momentos sair disso no mercado de fotografia no Brasil.
Não tenho muitas referências sobre outros estados... Um pouco sobre Recife a respeito dos fotógrafos do Jornal do Commercio, que me parecem mais comprometidos com a qualidade técnica, ética, inteligente da fotografia. A editoria de fotografia discute no mesmo nível com a direção de redação. Isso nem deveria ser um diferencial né?
Era o que acontecia no Jornal Correio Braziliense, por onde tive a FENOMENAL sorte de passar como trainee/ estagiária (sei lá) em 1998 e 1999, com o meu guru Cláudinho Versiani. Lembro bem dele e Ricardo Noblat discutindo qual a melhor foto de capa e Versiani imperando em suas opiniões nas reuniões e todos entendendo seus argumentos e baixando a cabeça para sua maneira competente de liderar.
Mas isso, não é algo fácil de ser encontrado por aí. Primeiro porque os demais jornais e revistas/ donos não "dão liberdade" - dar liberdade é algo pra outro post, né? - aos editores de fotografia para este tipo de atuação. Ou quando não, os próprios editores de fotografia são tão 'catequizados' pela empresa que passam a pensar e fazer exatamente igual aos 'seus' donos. Só perpetuam e forçam uma decadência intelectual da categoria de fotógrafos.
Não sei como funciona exatamente em jornais de fora. Lembro bem do fotógrafo norte-americano, Stephen Ferry - de quem fui aluna em 2 workshops - fazendo colocações sobre como deveriam publicar nosso trabalho num jornal que nos recebeu para passarmos uma semana fazendo ensaios fotográficos na Bolívia que logo depois seriam publicados. A argumentação de Stephen era: "se não publicarem direito as fotos, podem desistir de pô-las na página, porque ou tem-se respeito pelo nosso trabalho ou não. E o respeito é dar as fotos da maneira mais correta e digna tanto para o fotógrafo como para o fotografado."
E para pagar as contas muitas vezes aceitamos coisas burras e sem propósito algum... E quando não, ficamos sem trabalho...
Acredito que o caminho pode até passar por pagar as contas neste mercado viciado e medíocre mesmo, tentando impor limites, mas sem dúvida alguma continuar estudando, se aperfeiçoando, buscando lugares e pessoas que realmente concebam respeitosamente a fotografia, que sejam inteligentes e tenham boa vontade. E principalmente: UNINDO-SE!! Unindo mesmo!! Coisa para a qual nossa linhagem não é muito disciplinada. Mas alguns Coletivos mostram que este caminho está começando a dar certo e tem-se a esperança de melhorar a visão no/do/pelo mercado.
A possibilidade dos blogs que também dão autonomia para estudo, mostras, conversas, articulações, bons contatos, aprendizado.
Lembro muito de uma disciplina que fiz com o historiador Nicolau Sevcenko - História da Cultura - para mim um modelo de resistência, batalha, anti-burrice que existe no Brasil. Uma referência enorme!! Algo pra não esquecer para vida!! Um dia, numa aula falou sobre a ditadura da escrita e a subjetividade da imagem. Resumindo bem a grosso modo: a arte, a imagem como um todo (libertadora, contestadora, que oferece várias interpretações), é anárquica demais!!! Por isso não poderia ser tratada como a técnica, a matemática, a escrita eram tratadas: com objetividade! E este conceito de "objetividade" é inerte e benéfico (??!!). Logo, a escrita sendo objetiva, é o modelo, é quem tem que assumir mesmo a 'hieraquia' do conhecimento e da trasmissão da informação.
A fotografia do mesmo jeito. Ninguém pode controlar... É argumentativa demais, fala demais!! Mas não é objetiva... Faz o pensamento fluir demais, viajar...
Não sei... Vai que é por isso mesmo... Penso que no 'subconsciente coletivo' é assim mesmo...
Numa daquelas semanas Fotosite de Fotografia que sempre aconteciam na FNAC, aqui em São Paulo ouvi o Pisco Del Gaiso comentar porque nossos fotógrafos não eram tão impetuosos lá fora. E muita coisa foi falada que realmente dá pano pra manga pra pensarmos a respeito, discutirmos, pormos na roda. "Muitos fotógrafos não falam outra língua, somos desunidos, não acreditamos no nosso potencial, somos desorganizados"... Opiniões emitidas no evento...
Enfim, acredito que esses coletivos, junções, discussões, têm trazido mais imposição por parte dos fotógrafos, mesmo dos que só "pagam as contas". E assim, melhoram-se e alfabetizam-se visualmente os donos, chefes, editores, fotógrafos, jornalistas para que esta consciência sobre o que é realmente a função e o objetivo da fotografia seja algo absolutamente natural... Como beber água, ir ao banheiro, escovar os dentes... Não como algo extraordinário!!
Um bom alfabetismo visual a todos!! E espero muitos comentários aqui!!
P.S.: E tem até um livro excelente sobre o que seria Alfabetismo Visual. É o "Sintaxe da Linguagem Visual", de Donis A. Dondis, Editora Martins Fontes.
6 comentários:
Gostei muito do seu momento panfletario, sem dúvida todos os que trabalhamos com fotografia já tivemos desses momentos.
Queria agregar mais uma ideia do Stephen Ferry que também foi meu professor em um worshop no Equador e que vai na contramão do que se prega em varios medios de comunicação, "devemos pensar que o público para que fotografamos é um publico sofisticado que espera de nos imagens que fogem do obvio..."
Abs.
E desculpe o maltrato ao português.
Adorei suas colocações! Concordo com a desunião dos fotógrafos apesar de todos, independente da área em que trabalhamos, sofremos com esse "emburramento" dos meios de comunicação e também dos "escolhedores" de fotos e "pseudo" editores!
O pior de tudo é a Cessão de Direitos que temos que assinar cedendo até a alma ...
Bjs
ao deparar-me com este post pensei em muitas coisas... pra além da necessidade de união, que no mundo contemporâneo é inexistente, pois as identidades se solidificam na velocidade no tempo, imersas no individualismo, sabe-se que o que parece ser um fenômeno, no mainstream do momento - a coletividade, essa mesma em que "o autor" tem sua identidade ofuscada, é mais uma estratégia da moderna industria cultural; e é essa mesma coletividade, confundida na efervescente moda dos coletivos fotográficos, também mais um "arranjo de panelas". daí uma maneira que um autor teria de assinar seu trabalho dentro de uma redação não passa também de cabide de emprego dos amigos, ou dos amigos indicados, pois sabe-se que pelo menos uns "trinta freelas" amigo cada redação agrega. o que quero dizer, é que antes do problema do analfabetismo visual (que deveria ir mais longe no projeto de alfabetização), teríamos um outro problema: as ditaduras despóticas das redações e dos eventos fotográficos, a partir dos quais eventos como "parati em foco", semana "fnac de fotografia" são pra além de estratégias de marketing, para encher o bolso de seus organizadores, uma balela; uma balela que não leva a educação visual para quem precisa apreender a ler visualmente o mundo. uma balela como igrejas que passam arrecadando dizimos de seus fiéis.
nada pessoal, somente uma reflexão out sider e anárquica.
ao deparar-me com este post pensei em muitas coisas... pra além da necessidade de união, que no mundo contemporâneo é inexistente, pois as identidades se solidificam na velocidade no tempo, imersas no individualismo, sabe-se que o que parece ser um fenômeno, no mainstream do momento - a coletividade, essa mesma em que "o autor" tem sua identidade ofuscada, é mais uma estratégia da moderna industria cultural; e é essa mesma coletividade, confundida na efervescente moda dos coletivos fotográficos, também mais um "arranjo de panelas". daí uma maneira que um autor teria de assinar seu trabalho dentro de uma redação não passa também de cabide de emprego dos amigos, ou dos amigos indicados, pois sabe-se que pelo menos uns "trinta freelas" amigo cada redação agrega. o que quero dizer, é que antes do problema do analfabetismo visual (que deveria ir mais longe no projeto de alfabetização), teríamos um outro problema: as ditaduras despóticas das redações e dos eventos fotográficos, a partir dos quais eventos como "parati em foco", semana "fnac de fotografia" são pra além de estratégias de marketing, para encher o bolso de seus organizadores, uma balela; uma balela que não leva a educação visual para quem precisa apreender a ler visualmente o mundo. uma balela como igrejas que passam arrecadando dizimos de seus fiéis.
nada pessoal, somente uma reflexão out sider e anárquica.
Vou ler o livro...
Gostei da panfletagem, fundamental!!!
Este é o meu primeiro contato como teu blog e gostei muito do teu texto.
Concordo que há um emburrecimento nas redações. Troquei a redação pela academia (já se vão 10 anos e não me arrependi) e nas aulas de fotojornalismo que ministro tento despertar em meus alunos a paixão pela expressão fotográfica, essa linguagem tão poderosa. Certamente devemos nos comprometer mais com a fotografia porém, como fazê-lo se as redações, cada vez mais, são não-lugares do fotojornalismo e sim de amigos dos amigos e de vaidades fotográficas? Creio que devemos nos unir para acabar com analfabetismo visual, com certeza, mas devemos pensar, também, em acabar com o egoísmo e os encastelamentos visuais que frequentemente encontramos por aí.
Abraço
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